Vivemos nas sociedades latino-americanas atravessadas por profundas desigualdades, tanto a nível material como simbólico, nas quais prevalecem discursos e imagens estigmatizantes em relação à instituição e à cultura escolar. As marcas que pesam sobre as crianças e jovens colaboram na produção de subjetividades marcadas pela dor social.
Na trama educativa, ocorrem diversas lutas em busca de sentido vital e processamento do sofrimento diante de um presente desanimador. Tornando-se necessário contrariar os discursos e imagens hegemônicas de criminalização e racismo face à instituição escolar e aos seus atores, reconhecendo que a escola pode funcionar como um espaço-tempo de resistência contra as múltiplas expressões da dor social.
Levando em conta que a dimensão afetiva tem sido historicamente um objeto de estudo relegado nas ciências sociais, bem como tem sofrido tratamento marginal no campo da pesquisa educacional, este dossiê pretende reunir trabalhos que levem em conta as dores e lutas que ocorrem no cotidiano escolar. A partir da chamada virada afetiva, a emoção se inscreve como categoria interpretativa das práticas de convivência democrática nas instituições escolares, tornando-se necessário o aprofundamento da pesquisa e análise das experiências emocionais na cultura escolar.
A partir deste posicionamento, o dossiê reúne um conjunto de trabalhos acadêmicos que dão conta de conceituações, práticas, categorias, abordagens teóricas e metodológicas emergentes de pesquisa e/ou intervenção, enfatizando os seguintes eixos de análise:
- Violência no cotidiano escolar: escritos que questionam os discursos e as práticas estigmatizantes que atingem a escola e nela se reproduzem.
- Narrativas de dor social: obras que recuperam as experiências emocionais dos diferentes atores do sistema educacional diante da falta de reconhecimento social.
- A escola como território de possibilidade: propostas socioeducativas que representem as lutas pela emancipação e apoiem as trajetórias dos estudantes e a criação de ações pedagógicas pelos docentes.
A intenção do conjunto de trabalhos incluídos neste número é promover a discussão e a reflexão sobre o lugar da escola como espaço de reparação de feridas sociais. Promover instâncias de intercâmbio e análise através de trabalhos que recuperem as práticas e experiências emocionais dos atores que compõem o tecido escolar é um passo incontornável para uma maior compreensão do papel fundamental que a escola tem no cuidado das gerações mais jovens.
Alessandra da Costa Barbosa Nunes Caldas y Ezequiel Szapu
Portada Luz Beloso, profesora de secundaria, pintora e ilustradora.https://luzbeloso.jimdo.com